Cristiano Mariotti

segunda-feira, 25 de março de 2013

Coluna Cristiano Mariotti: Entre a austeridade e a dignidade


“Tem que se buscar o equilíbrio entre a austeridade e a dignidade. Ser austero dentro de um buraco não parece interessante a ninguém” (CARVALHO, J.V., Nossa missão, 2013, disponível em: http://www.aovascotudo.com/site/?p=79620 ).
Foi com essa frase que o companheiro colunista definiu bem o que o Vasco mais necessita hoje: adotar uma política de responsabilidade fiscal, financeira, mas sem ferir à sua própria honra e a de sua torcida, já tão ferida. E foi justamente essa a frase que me inspirou, em meio aos problemas pessoais no qual estou vivenciando nesse momento (nada a ver com minha linda filha Manuela, que está muito bem) para que eu pudesse refletir e lhes escrever nesse presente momento.
Falar de crise vascaína há tempos tem sido MUITO fácil. Para ser mais exato, desde 2001. A cada ano, uma crise nova. A cada derrota, o fim do mundo. A cada vitória, a falsa sensação de que todos os problemas estão resolvidos. Se temos um time reconhecidamente fraco que, segundo muitos, não vai ganhar nada, parece que o abismo é irreversível. Quando tínhamos um time que era capaz de disputar de igual para igual, muitos não creram, era céticos da mesma forma. De fato, sempre faltou o “algo a mais”, a completude que tanto buscamos. Fato esse que nos fez, com um time competitivo até o meio do ano passado, nos fazer amargar a três vice-campeonatos de turno e returno, um vice MUITO DISCUTIDO (mais na base do “apito amigo) no Brasileiro de 2011 e somente um titulo conquistado.
Naquele momento, se não tínhamos tudo, tínhamos pelo menos a dignidade de chegar às disputas. Fomos eliminados na Libertadores pelo mesmo adversário “queridinho” do sistema paulistano que está dominando o futebol nesse país e colocando ao futebol carioca cada vez mais abaixo de forma MUITO DISCUTIDA também, e ainda assim, na “bacia das almas”, com direito a nosso ex-camisa dez perder um gol que, até hoje, nos custa a crer que, de fato, ele pôde perder. Mas estávamos lá, em campo, mesmo perante toda a dificuldade do dia-a-dia e aos questionamentos sobre muito que acontece no clube firmes e fortes nas disputas. Poderíamos ter sido campeões brasileiros em 2012, não fosse o desmanche do time por razões, até hoje, não tão bem explicadas.
Vem a crise financeira, muito por culpa do modelo de gestão que a diretoria adotou. Vem as penhoras, o eterno problema da incapacidade em se gerir o fluxo de caixa, lutamos com nossas fraquezas naqueles momentos com um departamento jurídico incapaz de ganhar UMA sequer nos bastidores do futebol. Não tínhamos, naquele momento, NINGUÉM na diretoria administrativa que fosse competente suficiente para negociar as dívidas, resolver as penhoras, reajeitar o futebol, redefinir os caminhos do clube...devolver a DIGNIDADE perdida por nós mesmos, pelas escolhas erradas de quem nos comanda. O exemplo da falta d´água do ano passado foi emblemático e serve como exemplo (dentre tantos outros que poderia citar) de como NÃO deve se comandar um clube de futebol.
Tal como uma pessoa enferma que precisa de ajuda, reconhecer essa incompetência toda foi o primeiro passo. Chamar a um gestor executivo que entenda e que vislumbre uma grandeza como o Vasco é e tem que se valer. Formar uma diretoria profissional, ao lado de Renê Simões no comando do futebol e Ricardo Gomes, com função ainda não tão bem definida mas que pode auxiliar, sim, pela competência que possui e pelo exemplo de vida que deu à todos.
Ainda que o dinheiro seja escasso, ao menos fora de campo o primeiro grande passo fora dado. Faltava, no entanto, o componente essencial à beira do campo, que era um técnico com mais envergadura. Alguém em que os jogadores pudessem confiar e que lhes passasse a mesma confiança recíproca. Com todo o respeito ao Gaúcho que pode até ser “boa praça”, mas não era ele o mais indicado, tampouco nomes que chegaram a ser “ventilados”, tais como Cristóvão, Sílas, Jorginho do Bahia e outros. Não precisávamos ter chegado a três derrotas consecutivas com um time descamisado, sem sangue, sem esquema, sem NADA (tal como ocorrera em 2011) para que o óbvio fosse enxergado. Tentou-se dar uma chance a quem nunca havia iniciado uma temporada como treinador, mas não “deu liga”. Paciência: “a fila anda”. Como bem iria dizer o novo treinador na última sexta-feira, o Vasco É MAIOR do que TODOS NÓS!  

Sugerira em meu último texto lançado na última quinta-feira o nome de Dorival Júnior. Muito mais por ter sido um nome que já tinha dado certo no clube e cujo novo ciclo no mesmo poderia se iniciar e terminar da mesma forma vitoriosa no qual se encerrara o ciclo anterior. Não crera que Paulo Autuori, um dos técnicos mais caros do mundo até então, pudesse ser contratado, até mesmo por causa da declarada política de austeridade que fez com que o clube não repusesse à altura os nomes de craques e jogadores muito úteis perdidos no durante e ao final do ano passado. Mas ele foi contactado, e o melhor: topou esse desafio!

Desde que me conheço por vascaíno, não vira, até hoje, um nome de maior impacto para técnico ser contratado. Em meio à política de contenção de despesas, de formação de um time mediano para baixo somente nesse primeiro semestre e a tentativa de, quem sabe, formar algo BEM MELHOR para o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil, Paulo Autuori é, sem dúvida, um nome de concordância de praticamente 96% dos vascaínos, segundo enquete feita até sábado em nosso site. Sua contratação vem, em meio à descrença, para tentar demonstrar ao grande público vascaíno de que o clube poderá, quem sabe, abandonar a pequeneza de pensamento e voltar a pensar como Vasco, sendo austero mas honrando com suas tradições. Tal como lhes escrevera em meus primeiros textos do ano, o elenco que temos hoje BEM TREINADO por alguém que compreenda de futebol, com uma rotina de treinamentos digna do profissionalismo sustentado em discurso e com suporte extracampo, salários em dia principalmente, NÃO é candidato a rebaixamento. Ao contrário disso, da forma como estava até a última quarta-feira e à terceira derrota consecutiva, seria um dos quatro rebaixados, sem sombra de dúvidas e ao menos de minha parte.

Mas Autuori já chegou pensando grande, pensando além. Dizendo-se vascaíno, proferiu frases de efeito, mostrou-se disposto a realizar um trabalho de excelência, mesmo porque um clube GIGANTE como o Vasco NÃO PODE se contentar somente em passar como figurante em um campeonato, tampouco somente em fazer campanhas para fugir de rebaixamento. Até mesmo porque esse foi o grande “calcanhar de aquiles” encontrado, hoje, por quem milita na política ao lado do Presidente reeleito para tirar seu antecessor do poder. Por que haveria, então, de se retroceder, haja vista que, ao menos em campo nos últimos anos, avançamos em resultados, mesmo tendo regridido em 2012 em termos de estrutura, de profissionalismo e de time?

É evidente que Autuori não é mágico. Somente Autuori não fará milagres. Precisará MUITO mais do que somente seu discurso otimista, suas frases de efeito, seu profissionalismo, sua força de vontade e seu vascainismo. Precisará de REFORÇOS para formar um time competitivo, salários na medida do possível em dia e suporte extracampo em suas decisões. Mas seu pensamento de grandeza refletindo ao que todos nós pensamos já nos renova a esperança por dias melhores. Pode ser, inclusive, a chance de, junto com ele, o clube conseguir chegar ao seu equilíbrio entre ser responsável e ser digno de suas próprias tradições e de sua torcida. Redescobrir, tal como em meu texto da última segunda-feira, sua própria identidade. Não somente em sua figura, mas tendo nele o agente estimulante necessário como referência de como pensar e agir em assuntos que se tratam sobre Vasco.

Que os anjos digam “Amém”! Boa sorte, Professor Autuori!

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