Cristiano Mariotti

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Cristiano Mariotti: O INIMIGO DO BOM

Uma das primeiras declarações de Paulo Autuori como técnico do Vasco às vésperas de seu primeiro jogo diante do Olaria foi de que não basta para ele, Autuori, um time vencer sem convencer. De que o ideal e o que ele iria buscar seria um time que vencesse e convencesse sobre seu futebol, perante os adversários e à torcida.


Logicamente e entusiasta conforme é, Autuori sabia em seu íntimo pessoal que isso não seria possível. Pelo menos, nesse momento, com esse time mais especificamente. E vou mais além: com a situação atual de nosso balneário do futebol: sem salários, vencimentos sendo pagos a um grupo seleto de profissionais, ficando a promessa de quitação do restante para outra semana, jogadores aparentemente desmotivados e cabisbaixos, sem a devida vontade de vencer que um grupo que trabalha em um clube como o Vasco deveria ter.

Não assisti ao desastroso jogo em que nosso time perdeu, mais uma vez, para o Botafogo. Desde a derrota institucional fora de campo ao não fazermos valer nosso DIREITO de mando de campo até a culminante derrota em dia que, para mais ajudar, ainda contou com uma atuação desastrosa de nosso goleiro, Alessandro. Esse sim e tal como Fabiano naquela derrota em 2005 pelo mesmo placar frente ao Baraúnas pela Copa do Brasil, creio que dificilmente voltará a defender a nossa meta. E penso que nem deveria. Assim como não vejo em Michel Alves o goleiro ideal para Vasco. Hélton, que está praticamente de saída do FC Porto e que gostaria de retornar, seria minha opção para repatriar nesse momento.

Nesse mesmo dia, assisti a horas depois (já em casa, depois de mais um dia inteiro de trabalho) ao jogo do Atlético-MG. E pensei comigo, de forma sincera, objetiva e sem rodeios: tal como o mesmo adversário (também alvinegro) que nos derrotara momentos antes, o Galo não possui a quantidade de torcida que possuímos; recebe menos de cotas de TV do que nós; não possui em tese os mesmos valores de patrocínios que possuímos hoje; passou durante anos e mais anos vendo seu principal rival celeste a chegar às grandes conquistas, sendo hoje a maior torcida do estado mineiro e com mais percentual de torcida do que o Galo em todo país; não se fala em dirigente profissional querendo aparecer mais do que qualquer um membro da diretoria; há um Presidente reconhecidamente atleticano de coração, que manda e que todos reconhecem seu comando, identificado com seus torcedores, inclusive.

Mas possui um patrimônio com um CT de treinamentos de primeira grandeza; possui um comando sempre presente perto dos profissionais; possui dinheiro para investimento e um time bem dirigido e competitivo. Joga, hoje e depois de muito tempo no cenário nacional afastado da possibilidade das grandes disputas por títulos bem maiores do que somente o Campeonato Mineiro, o futebol mais vistoso do Brasil, quiçá das Américas. Ressuscitou um craque que a “Flapress” já dava como acabado para o futebol e que é o capitão desse grupo, que fez ressurgir no torcedor do Galo, depois de muito tempo, seu sentimento de autoestima pelas grandes disputas. Tal como o Vasco, o Botafogo, o Palmeiras, o Corínthians e o Grêmio, o Galo já esteve na segunda divisão também. E quase para lá voltou em algumas oportunidades, durante esse hiato entre seu retorno e o belo momento em que vivencia agora.

Tudo isso nos leva a crer que não se troca de dois níveis completamente antagônicos entre si em curto espaço de tempo. Tal como uma montanha, há uma escalada. E o Vasco escalava, mas derrapava. Tropeçava em suas “próprias pernas”, caía, se levantava, parecia que engrenaria, mas retrocedia. Parecia que seriam mais alegrias do que tristezas a partir de 2011, mas tudo retrocedeu. Em suma: não aprendemos a ser constantes, com um desenvolvimento sustentável sobre um trabalho. Muito pelo contrário: as pessoas saíram e o modelo de gestão sustentado por essas pessoas saíram junto com as mesmas. Hoje, estamos de volta à estaca zero, e dali (mais uma vez) é que partiremos para o restante do ano.

E por isso que, voltando ao discurso otimista de Autuori dentro de campo, não encontramos respaldo para dizer que um time deve vencer e convencer. Não há o ótimo sem se achar o bom primeiro. Nesse momento, estamos há anos-luz de ambos, e vencer nesse momento, mesmo da forma como foi nesse último domingo perante o Friburguense no esvaziado São Januário, já seria o suficiente. Com esse time, com esse grupo, com essa mentalidade, com esse projeto de retomada de uma gestão profissional, com as dificuldades de se colocar em dia os salários dos profissionais e de se contratar reforços...enfim, até mesmo com a velha morosidade em se implantar um plano de sócios decente, prometido desde agosto do ano passado, e que até o presente momento NADA de anúncio oficial, não tem como se pensar em ser ótimo, em grandes vitórias, tampouco em conquistas. Infelizmente!

Tal como em 2011 que tivemos o pior início de Taça Guanabara de nossa história, dois anos depois (2013) e após a patética e covarde perda de mais uma final de turno de estadual tivemos o pior início de Taça Rio, difícil é imaginar que, ao meio de tantas dificuldades, de tantas trapalhadas, de tantas decisões tomadas pela diretoria de forma errada, do ceticismo que tomou conta da maior parte de nossa torcida em contar com um time ao menos digno de respeitar nossas tradições, teremos uma retomada de prestígio e de autoestima que nos inflou durante o restante daquele mesmo ano, considerado como “ponto fora da parábola” nesses últimos treze anos de massacre ideológico. Não dá para imaginarmos sequer o bom, tampouco um ótimo restante de ano.

O que nos resta, então, é imaginar que, ao menos, poderemos ter com um esforço de trabalho dentro e fora de campo e mais uma dose de apoio do vascaíno desprovido de egocentrismos, politicagens, vaidades e que ainda tiver coração forte para tantas decepções para que o ano aparentemente terrível que ainda se desenha para nós, agora, termine da melhor forma possível. 

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