Cristiano Mariotti

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Cristiano Mariotti: DESCONSTRUINDO ESTORINHAS


A situação VERGONHOSA de constatação do estado de risco de uma construção como o Engenhão (que gastou milhões de reais do dinheiro público para apenas seis anos de uso) reacende a polêmica sobre a utilização do ÚNICO estádio hoje, na capital fluminense, em condições de abrigar grandes jogos que é o estádio privado de São Januário.

Templo sagrado da torcida vascaína, erguido pela mesma e sem um centavo sequer de dinheiro público investido. Outrora palco de grandes eventos, até mesmo de desfiles cívicos e pronunciamentos do Presidente da República à época Getúlio Vargas, São Januário já comportou finais de campeonatos, tais como a primeira partida da final da Copa Libertadores da América de 1998 e da Copa Mercosul de 2000, e mais recentemente a primeira partida da final da Copa do Brasil de 2011. Símbolo de resistência de uma instituição contra os rivais que queriam ver o Vasco longe da Liga sob pretexto de não ter estádio próprio, hoje poderia ser a solução para esses mesmos mandarem lá suas partidas, aceitando em contrapartida que os grandes clássicos fossem lá realizados no período sem Maracanã e sem outras alternativas.

Se muitos ainda se apegam em um incidente que ocorrera na final do Campeonato Brasileiro de 2000 para contra-argumentar sua utilização, se esquecem de que, no entanto, tratou-se de um fato isolado, irresponsável mas sem consequências de morte ou de graves ferimentos irreversíveis para as vítimas, ao contrário do que, por exemplo, ocorrera no outrora “maior do mundo”, durante a final do mesmo campeonato nacional em 1992, em que com a queda do alambrado, ainda assim e ao meio de tantos feridos graves e com um cordão de isolamento feito pelos próprios torcedores do arquirrival, houve jogo normalmente, em uma prova maior de irresponsabilidade até hoje não dita de forma clara pela mesma parte da imprensa que hoje condena São Januário para eventos dessa natureza.

Ou então, o que dizer do tiro disparado das antigas cadeiras azuis na final da Copa América de 1989, Brasil 1 vs 0 Uruguai, acidentando ao pai de um jovem em sua cabeça durante a comemoração do gol de Romário à época? Em mais uma prova de que a segurança no estádio que tantos formadores de opinião pregam, muitas vezes, se torna falha, independentemente da praça de desporto ou do público presente na mesma.

E ainda sobre esse mesmo incidente da final de 1992 em pleno Maracanã: o acontecimento levou ao governo do estado a fechá-lo para reformas durante seis meses. Como consequência, tivemos um Campeonato Carioca durante o segundo semestre do mesmo ano com a grande maioria de seus grandes clássicos disputados em São Januário. No caso do Vasco, TODOS seus clássicos (tanto na Taça Guanabara quanto na Taça Rio) foram lá disputados, em tempos em que o Vasco tinha expressividade e representatividade junto às federações. Como “retaliação” (a si próprios em primeiro lugar), os eternos parceiros Fla-Flu preferiram mandar um de seus jogos no Estádio Italo Del Cima, em Campo Grande. Lugar apropriado na época para quem não reconhecia a nossa praça de desporto como de grande valia para eventos de alto nível.

Em síntese e para mim, não existem argumentos tão ou mais graves no interior de um estádio como esses dois últimos citados ocorridos que me convençam sobre a não-utilização de São Januário como casa para grandes jogos de clubes do Rio de Janeiro (clássicos regionais, inclusive) na ausência do Maracanã e do Engenhão. Se contra São Januário pesa o eterno argumento das ruas estreitas e de difícil acesso, o que dizer das ruas do entorno do recém-interditado estádio, então? Se o argumento for a briga entre as torcidas em seu entorno, o que a segurança pública tem a dizer sobre os tiroteios e as brigas entre torcidas na estação de trem na Ala Sul, no interior da praça de alimentação do shopping localizado no bairro adjacente e nessas mesmas ruas igualmente estreitas (tal como no relegado São Januário) em seu entorno? E o mesmo nos entornos do Maracanã, algo que sempre teve desde que me conheço como torcedor de futebol e frequentador assíduo dos estádios? Nas vias de acesso público, inclusive? Será que a violência só existe nos entornos de São Januário, mesmo não reurbanizado ainda?

É estarrecedor quando a segurança pública – órgão do governo do estádio cuja OBRIGAÇÃO é garantir a segurança da população – afirma que não garante a segurança para jogos no Estádio Vasco da Gama, quando em um exercício de competência e de boa vontade, a segurança pública do estado paulista, por exemplo, garante a segurança em grandes clássicos regionais disputados na Vila Belmiro, estádio dos Santos FC, tal como garantia no Palestra Itália da SE Palmeiras (antes de seu fechamento para reformas) e até mesmo em clássicos disputados no interior paulista.

Ainda mais estarrecedor quando as mesmas autoridades são capazes de autorizar jogos entre grandes torcidas, muitos se deslocando a mais de cem quilômetros da capital e com risco de se encontrarem pela Via Dutra ou por ruas ao redor do Estádio da Cidadania, em Volta Redonda. Com todo respeito ao belo estádio da cidade do Sul-Fluminense, os mesmos problemas de ruas estreitas e de divisão de torcidas no interior desse estádio (sem um muro ou um vão específico) poderiam ser utilizados como argumentos para proibir a sua utilização. Ao contrário disso, são ignorados por quase todos da mídia esportiva. Já quando se trata de São Januário, é encarado como uma temeridade liberar a divisão igual de ingressos para ambas as torcidas. Quais são os argumentos para que nos convençam de que, no Estádio da Cidadania e mesmo sem qualquer divisão em concreto, isso seja possível e em São Januário, não?

Que fique bem claro que, obviamente, o Maracanã (assim que liberado) deve voltar a ser o palco dos grandes clássicos do Rio de Janeiro. Afinal, é um estádio do Rio de Janeiro construído com dinheiro público do contribuinte, e portanto, É NOSSA CASA TAMBÉM. No entanto em sua ausência, soa como desprezo relegar a utilização de São Januário. Aparenta ser muito mais uma questão de má vontade com o clube ou ainda, questão de não querer dar a mesma vantagem no qual o Botafogo vem usufruindo há tempos ao Vasco.

Sobre o TAC (mal redigido e assinado sob a complacência do ex-VP Jurídico e do nosso atual Presidente), trata-se praticamente é um termo proibitivo, intimador em seu conteúdo, e não somente ajustador como haveria de ser. Uma vez que o Vasco cumprisse tais exigências explicitadas nesse termo, haveria de se posicionar para que, no próximo Campeonato Carioca e em caso de fechamento do Maracanã e do Engenhão, houvesse uma assinatura de TODOS os clubes concordando em jogar em nosso estádio nos jogos em que o clube tivesse direito ao mando de campo. Medida sensata, dentro do que foi estabelecido pelo termo e sem maiores contestações das autoridades, que por conseguinte, não teriam argumentos mais para tal proibição.

Se o Vasco realmente deseja exercer seus direitos, o caminho é esse. Do contrário, vira bravata de nosso diretor-executivo Renê Simões e gerundismo de nosso Presidente, que horas antes na última quarta-feira, afirmara (em mais um discurso gerundista): “estamos trabalhando para mandar nosso jogo contra o Botafogo em São Januário”; e que horas depois, no mesmo dia, viria a confirmação do que todos já desconfiavam: nada feito!

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