Cristiano Mariotti

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Coluna Cristiano Mariotti: A realidade bate à porta

Em entrevista concedida à imprensa após o VEXAME (mais um para nossa extensa conta nesse século) de uma derrota em pleno São Januário para o Bangu, o zagueiro André Ribeiro afirmou que “agora é ter vergonha na cara e trabalhar a semana toda para ganhar os três pontos no próximo jogo”. Essa tal “vergonha” que o defensor cita começa em sua própria escalação, aliás indo um pouco mais fundo, em sua própria contratação. Difícil para quem já teve uma com seu lugar ocupada por Ânderson Martins a menos do que dois anos ter que conviver com o limitadíssimo futebol desse beque dispensado pelo pequeno clube gaúcho no ano passado. Muito embora não seja ele o grande culpado por essas últimas duas derrotas, contudo, seja apenas mais um dos componentes de um time limitado, com carências e que demonstrou tudo o que já sabíamos mesmo nas vitórias nessas últimas duas derrotas.

Tão absurda como a contratação e a escalação desse jogador é a possível vinda de Robinho, não o “rei das pedaladas”, mas sim um meia ofensivo fraco que, até o momento, a imprensa e nós mesmos torcedores estamos confusos se é o mesmo que atuou pelo Vasco na série B em 2009 ou não. Só por esse fato já se justifica a não-vinda desse rapaz, mesmo para um grupo que ainda carece de qualidade técnica e que, com certeza, não seria nem o Robinho ex-Vasco e nem o outro que era reserva do Coritiba e que jogou no Avaí que iria agrega-la ao plantel. Para quem já teve Juninho, Diego Souza e Felipe (quando queria jogar) nessa posição, ter que se contentar com jogador desse quilate é mais uma prova de que algo está MUITO errado.

Há tempos venho discorrendo permanentemente sobre tudo isso que é perene no clube, fica escondido nas vitórias mas que se aflora nas derrotas: o Vasco aprendeu a pensar pequeno, infelizmente. As dificuldades financeiras, uma diretoria decomposta e que tenta se recompor com profissionais sérios e que já sabem que terão muito trabalho pela frente, um time em formação com jogadores que chegaram a custo zero pela falta de dinheiro (alguns refugos, inclusive), um técnico que não inspira confiança em sua torcida... Tudo isso é uma mistura de causas e reflexos de quanto o Vasco reduziu-se, ao ponto de jogador chegar por empréstimo “para ganhar experiência” (segundo palavras de Alexandre Kalil, Presidente do Atlético-MG, em referência a Felipe Soutto). Nesse momento, tudo o que é de ruim volta à pauta: a esperança de dias melhores perde para o medo e o “fantasma” de que algo de muito ruim nos espera no Campeonato Brasileiro, em especial, retorna reforçado pelos argumentos das derrotas recentes e dessas pífias contratações que um clube endividado tal como o Vasco resolve cogitar em jogadores de fraco nível técnico.

É bem verdade e, tal como eu explanei logo após a primeira vitória (a mais convincente) sobre o Boavista na primeira rodada, deveríamos ter uma dose de otimismo (muito mais pelos profissionais sérios que chegaram ao clube para comandar essa reestruturação do que pela diretoria amadora e incapaz de executar que já conhecemos há tempos) sem, no entanto, chegar aos devaneios de que esse time incompleto “desfilaria” pelos gramados um futebol – arte, ou ainda, que os problemas seriam rapidamente resolvidos. Bem como devemos ter o equilíbrio e a consciência de que estamos iniciando uma caminhada em um ano que já se aparentou desde muito antes como um ano de grandes dificuldades para nossa caravela. Reconhecer nossas próprias limitações e procurar, junto a esses novos profissionais, resolvê-las de forma cirúrgica, com contratações que resolvam, e não que inchem ao elenco de jogadores inexpressivos e, assim, retornemos ao mesmo problema de outrora, com excesso de jogadores desqualificados e insatisfeitos.

E óbvio, as mesmas pontuações que fizera em meus últimos textos eu posso, sem problemas, repeti-las aqui de forma mais incisiva e ainda acrescentando mais outras para que não reste dúvidas quanto à minha opinião: Alessandro, além de ser um goleiro fraco sem confiança, é sem sorte também. Dedé está MUITO mal tecnicamente, e não é por ser ídolo que estarei aqui sendo conivente com suas últimas atuações muito aquém de seu potencial. Por sinal, corre-se o imenso perigo de, no meio desse time tal como está formado hoje, seu nível de atuação declinar em muito e, por consequência, seus direitos econômicos serem desvalorizados, culminando com sua transferência ao meio do ano por valores muito abaixo do que se pagaria por ele agora. André Ribeiro não deveria estar no Vasco, com todo respeito ao atleta.

Em termos ofensivos, faltam-nos pelo menos um lateral-esquerdo de origem que seja bom no apoio ao ataque (Yotún SE FOR somente na Taça Rio); e um meio-campo de peso para pensar ao jogo e criar jogadas mais agudas, pois com certeza delegar essa função única e exclusivamente a Bernardo é pedir para vivenciar dias de sol intercalados com chuvas e trovoadas provocadas por um jogador inconstante tal como ele é. Atribuir a esses dois fracassos na conta da ausência de Carlos Alberto (tal como alguns já sugerem) é criar uma nova dependência com um jogador que joga bem esporadicamente e que vive se lesionando. E depender da velocidade misturada com a falta de inspiração, de objetividade e de inteligência nos piores momentos de Éder Luís é sepultar de vez qualquer esperança ofensiva para um time ainda em estágio embrionário de formação, que em pouco tempo já foi capaz de despertar esperança por dias melhores e assombros por dias terríveis.

Finalizando essa análise de campo-e-bola: Gaúcho foi colocado no cargo por ser uma opção mais fácil válida, na teoria, para encontrar um lugar para Ricardo Gomes exercer, no papel, a função de diretor-técnico ao estilo Alex Ferguson; e porque também recebe de salários, com certeza, muito menos do que um treinador de maior envergadura. Efetivou-se sob desconfianças apesar de ter apresentado um bom retrospecto desde que assumiu o comando no ano passado e sob as mesmas continua, nesse momento de maneira mais forte após dois resultados ruins. O time não evoluiu em suas mãos, ao contrário: retrocedeu tecnicamente e taticamente. Portanto e mesmo levando em consideração o material humano que possui em mãos nesse momento, já passou da hora de o time sob sua regência demonstrar progresso. Não digo que deva jogar bonito e ser campeão: a discussão é de que entramos com um time mal armado contra o arquirrival – razão pelo qual também perdemos aquele jogo – e contra o Bangu a atuação conseguiu ser ainda pior. Colocar toda a culpa pelas derrotas é um gesto simplista demais, tal como foi o erro (MEU, INCLUSIVE) de somente atribuir as derrotas sucessivas do Brasileirão de 2012 às más decisões tomadas por Cristóvão Borges ao final de seu ciclo no clube. Mas compartilhar com ele e os demais da comissão técnica, da diretoria e dos jogadores esses dois últimos fracassos passa muito longe de ser algum absurdo.

Que a realidade que, hoje bate à porta, arda nos olhos de quem queira enxergar para que esses mesmos olhos não ardam com as mesmas lágrimas derramadas ao final de 2008! O momento não é nem de pregar o Apocalipse e tampouco de “dourar a pílula” para uma torcida há tanto tempo castigada com uma coleção de vexames: é de mudar o pensamento e trabalhar com inteligência (pensando no Vasco com o cérebro, e não somente com o coração) para crescer. Em todos os sentidos...

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