Cristiano Mariotti

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Coluna Cristiano Mariotti: Constatações e contestações

Já diz o antigo provérbio que “depois da tempestade, vem a bonança”. Não que possamos assim chamar uma vitória diante de um clube inexpressivo em território nacional como é o caso do Audax, mas com certeza, é bem melhor vencer a quem quer que seja do que amargar mais um resultado negativo e incendiar ainda mais a um clube em eternas tormentas consigo mesmo. Pôr fim a uma série de um ponto conquistado dentre nove possíveis é, com certeza, motivo para se respirar e se prosseguir com mais tranquilidade no trabalho de reconstrução. Não com acomodação e com a sensação de que esteja tudo bem, pois a realidade é bem diferente. Mas dá, ao menos, tranquilidade e uma ponta de confiança aos profissionais. Auxiliados ainda pela derrota do Madureira, que nos recoloca na condição de dependermos somente de nossos esforços para garantir ao óbvio e aceitável: a vaga nas semifinais desse primeiro turno.

O anterior e o atual certame
 
Há mais de um mês atrás no início da temporada, Vasco e Flamengo eram os times contemplados como as forças de segundo escalão dentre os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro, que colocavam Fluminense (de forma muito justa) e Botafogo em um estágio à frente de ambos. Ambos, inclusive, protótipos de times para 2013. Logo, percebeu-se de que o Fluminense, ciente de seu potencial técnico, não precisaria demandar maiores esforços para se classificar com certa tranquilidade, inclusive, para as semifinais da Taça Guanabara. 


Ao Botafogo, coube-lhe uma impressão de “soberba injustificada”: talvez por ter sido colocado por muitos como rival direto do Fluminense em teoria, por sorte de seus adversários ele (Botafogo) pode ter acreditado nesse conto e o que se vê é mais um time tão comum como os demais, tendo em Seedorf seu diferencial e um goleiro de grande nível a lhe defender. Contra si, o peso de um técnico rejeitado por sua torcida e que alterna bons e maus momentos em seu trabalho questionado por quem vivencia o dia-a-dia alvinegro.


Acerca do arquirrival, Flamengo, outrora taxado, até por alguns, como o pior dente os quatro, restou-lhe a troca de diretoria para um pensamento mais profissional, contratações cirúrgicas em setores carentes do time, o aproveitamento do que há de melhor em suas divisões de base, além de um trabalho de reestruturação de um time sério comandado por Dorival Júnior: o mesmo técnico que muitos vascaínos esquecem de que foi a quem recorremos há quatro anos atrás para montar o elenco que nos reconduziu de volta à primeira divisão. Com dose de sorte para quem trabalha, encontraram dois jogadores, um deles que pode ser uma revelação a craque daqui a alguns tempos (ou não!) e outro centroavante limitado tecnicamente, mas que faz o que todos desejam: gols, em um time no momento bem armado. Líder e com a vantagem de garantir esse turno se não mais perder até a final do mesmo, pode não ser campeão (é o que desejo!), mas faz nesse momento por merecer, pois segue os passos e com pensamento progressista no qual gostaríamos de ver entranhado em nossa instituição.


E é sobre essa questão nevrálgica que volto a insistir para quem é Vasco e o pensa com a cabeça de vencedor. Há mais de duas semanas atrás, Wallim Vasconcelos – VP de Futebol rubro-negro – em uma entrevista a um jornal de grande circulação reconheceu que seu clube passaria por dificuldades adotando, contudo, um discurso de austeridade otimista, de progresso e crescimento sustentável com o tempo, completamente diferente do discurso adotado pela diretoria amadora atual eleita do Vasco e tal conforme já elucidei faz algum tempo. Seu discurso, ao que parece, se materializa nesse início: vemos a evolução de um time antes visto como dos mais fracos, ao passo que a evolução do time vascaíno se faz a passos “tão rápidos” comparados aos de tartaruga. É questão de filosofia de pensamento e vontade de vencer, bem maior nesse momento em nosso arquirrival. Afora outras questões que os ajudarão bem mais do que a nós ao longo do tempo, como maior rentabilidade em cotas de transmissões de TV, mídia a seu favor e exposição maior de sua marca, tal como no último campeonato brasileiro, em rede aberta, dando-lhe maior visibilidade e retorno financeiro em patrocínios.


Refletindo sobre nós mesmos
 
Ao Vasco durante seu percurso inicial e as três vitórias consecutivas, deu-se a falsa impressão de que o time fosse desenvolver em campo algo bem melhor do que sua escalação sugeria no papel. Construiu-se, para muitos, uma fortaleza de otimismo em areia, que logo foi lhe mostrado a realidade. É preciso bem mais do que um discurso de austeridade para fazer um clube funcionar. É preciso trabalho com inteligência, dedicação e profissionalismo com competência, aliado a pensamentos de maior progresso, e não de regressão, estagnação ou eterno conformismo ao pouco que se produz e aos poucos resultados alcançados e que podemos alcançar sob olhares acomodados em 2013, sem a reação no qual nossa torcida quis e que, por isso, apoiou em sua maioria a saída do ex-Presidente e a renovação de poderes em 2008.


Sobre esses momentos de reflexão, analisamos o porque não evoluímos mais do que poderíamos. Ao contrário dos demais adversários de expressão local, sucateamos as divisões de base com péssimos trabalhos durante quatro anos e pagamos essa “salgada conta”. Hoje, contamos somente com, no máximo, jogadores jovens advindos da base com potencial, contudo não ainda prontos para assumir alguma vaga de titularidade, mesmo ao meio de um protótipo de time. 


Possuímos jogadores que nos dá o pressentimento de que poderão vingar, mas sem contudo metas e prazos estabelecidos para apresentar algum resultado de evolução tática e em conjunto dentro de um time formado, se é que farão mais do que pensamos que poderão fazer, pois foram em sua maioria, no máximo, coadjuvantes em seus ex-clubes. Em contrapartida, possuímos jogadores reconhecidamente de potencial técnico, no qual somos dependentes hoje – Carlos Alberto em especial, tal como na Série B – mas que não nos passa a confiança necessária de até quando ele estará a fim de jogo e sem lesões. Queiramos admitir ou não, somos outro time com ele em campo, o que já representa um retrocesso ao modelo de 2009, se comparado ao fator grupo que prevalecia no time que nos tirou, não somente da fila de mais de oito anos sem títulos, como também nos resgatou a competitividade durante 2011.


Essa é a nossa realidade: apostar que o imponderável irá contribuir para que Carlos Alberto atue bem na maioria dos jogos; apostar no resgate de bons valores tais como Dedé, Bernardo e Éder Luís; apostar em jogadores que buscamos e que vieram dentro das condições financeiras precárias na falta dos jogadores de base bem formados para compor ao time titular; apostar nos mais experientes que vieram e nos remanescentes; apostar que a nova diretoria profissional dará suporte ao grupo para realização de um trabalho com dignidade; e apostar que o peso da camisa poderá ajudar, ao menos em jogos contra os clubes de pequeno investimento.


O Fator Gaúcho
 
Nessa intenção de remontagem de um elenco e de formação de um time mais competitivo com o material humano que o Vasco disponibiliza hoje, Gaúcho (que nunca foi considerado um técnico com envergadura necessária para um grande clube) caminha (tal como nosso clube nesse atual momento de nossa história) a pequenos passos para evolução de seu trabalho perante tamanha responsabilidade que possui. Ainda vejo, tal como hoje diante do Audax, um time confuso em seu sistema defensivo, enrolado na saída de bola para o ataque e sem padrão de jogo definido. 


Sobre ele, recai ainda o peso por duas decisões precipitadas em sua escalação titular e um acerto. A insistência na inoperância de Éder Luís, contemplada com um gol de frente para as redes, digno de entrar para o time do “Inacreditável Futebol Clube” se o perdesse. E a exposição de Dieyson, lateral ainda sem maturidade para assumir a responsabilidade de ser titular hoje, dando-lhe ainda de forma precipitada a missão de marcar mais (segundo o próprio atleta) e retirando-lhe sua principal virtude de ser ofensivo, tal como era na base. Fosse um time mais bem qualificado tecnicamente, seu lado seria um convite para o adversário entrar de cara com o goleiro Alessandro – esse, sim, faça-se justiça pela evolução, ao menos, apresentada nos dois últimos jogos, sem no entanto, termos a convicção ainda de afirmarmos de que se firmará em nossa meta. Acertou, no entanto, ao deslocar Wendel ao lado de Abuda para o meio-campo, e creio que sejam, no momento, as melgores opções para proteção da defesa restando-lhes, contudo, a definição para um melhor posicionamento à frente da zaga.


Cabe a Gaúcho a responsabilidade pela evolução tática e em conjunto desse time em campo. Compartilhar experiências e ideias com Renê Simões e Ricardo Gomes, que já vivera essa responsabilidade de reconstrução há dois anos atrás, é uma das alternativas, se quiser cooptar a confiança da torcida, dos diretores e manter-se à frente do cargo que ocupa hoje por mais tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário